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Alain Delon morreu neste domingo, 18 de agosto de 2024. A morte foi anunciada num comunicado que os filhos postaram nas redes sociais. O ator estava com 88 anos.
Com a saúde debilitada, em 2022, Delon anunciou que pretendia morrer por suicídio assistido. Ele morava na Suíça, onde o procedimento é legalmente permitido.
Os trâmites legais não avançaram, e um dos filhos do ator chegou a negar que ele fosse recorrer ao suicídio assistido. Delon morreu em casa de causas naturais.
Ao saber da morte, o presidente Emmanuel Macron fez justiça ao tamanho da lenda. Nas redes sociais, afirmou: “Era um monumento francês”.
Nascido na França em novembro de 1935, Alain Delon teve uma infância e uma adolescência difíceis. Alistado na Marinha, lutou na Indochina, antes de ser descoberto por um caçador de talentos no Festival de Cannes de 1957.
Não estudara para ser ator, nem sabia se tinha talento, mas era bonito demais, e foi isso que chamou a atenção do caçador de talentos que viu Delon em Cannes.
Alain Delon se projetou internacionalmente em 1959, quando atuou em O Sol Por Testemunha. Ele fez Tom Ripley no filme dirigido por René Clément.
No tempo em que se transformou num dos grandes nomes do cinema, Delon viveu o drama comum a atores e atrizes de beleza estonteante. A luta era para convencer – e se convencer – de que tinha talento para além do fato de que era bonito demais.
Belo, símbolo sexual, talentoso e sortudo. Alain Delon trabalhou com diretores excepcionais em filmes extraordinários. Sob Luchino Visconti, atuou em Rocco e Seus Irmãos (1960) e O Leopardo (1963), duas das obras máximas do cinema italiano.
Com outro mestre italiano, Michelangelo Antonioni, contracenou com Monica Vitti em O Eclipse (1962). Ao lado de A Aventura (1960) e A Noite (1961), O Eclipse completa a chamada trilogia da incomunicabilidade de Antonioni.
Delon também foi dirigido por Joseph Losey, cineasta americano que se exilou na Inglaterra depois de ser perseguido pelo macarthismo. O Assassinato de Trotsky (1972) e Cidadão Klein (1976) são os frutos da sua parceria com Losey.
Klein é sobre a perseguição aos judeus na França ocupada pelos nazistas. Trotsky é sobre o exílio mexicano do revolucionário de 1917. Delon é o assassino de Trotsky.
Está na minha memória afetiva a lembrança da primeira vez em que vi Alain Delon. Foi em A Tulipa Negra (1964), filme com as aventuras de um mascarado parecido com o Zorro. É menor, mas está na antologia do cinema que povoou minha infância.
Alain Delon e Romy Schneider foram parceiros no amor e no cinema. Estão juntos em A Piscina (1969) e novamente em O Assassinato de Trotsky. Romy Schneider foi uma bela atriz austríaca de vida trágica, que morreu aos 43 anos.
Alain Delon se aproximava dos 40 anos quando, em 1972, sob a direção de Valerio Zurlini, fez A Primeira Noite de Tranquilidade. Nesse filme admirável, ele é um professor de literatura morando em Rimini, a cidade de Federico Fellini.
Foi também em 1972 que a beleza de Alain Delon entrou na letra de Balada do Louco, canção composta por Rita Lee e Arnaldo Baptista e gravada pelos Mutantes no álbum Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets.
Diz a letra: “Se eles são bonitos, sou Alain Delon/Se eles são famosos, sou Napoleão”. Balada do Louco foi regrvada por Ney Matogrosso no álbum Bugre, de 1986.
Em setembro de 2021, Alain Delon foi visto no velório do amigo Jean-Paul Belmondo, outro ator marcante da sua época. Carregava as marcas da idade e da debilidade física. Conservava pouco do homem belo que encantou o mundo em sua juventude.