Polícia Federal cumpre mandados de prisão e de busca e apreensão
A Polícia Federal e a Polícia Civil da Paraíba estão investigando, paralelamente, uma possível interferência de facções criminosas nas eleições municipais de João Pessoa. A informação foi confirmada nesta quarta-feira (21) ao Conversa Política pelo superintendente da Polícia Civil da Paraíba, delegado Cristiano Santana.
Segundo o delegado, a Polícia Civil do estado tem atuado especificamente na apuração da denúncia de atuação do crime organizado numa comunidade no bairro do Cristo, denunciada por um candidato em João Pessoa na última quinta-feira (15), enquanto a Polícia Federal se dedica na investigação se foi praticado crime eleitoral neste episódio.
“Nosso trabalho é identificar que grupos seriam esses. A parte de crime eleitoral fica exclusivamente com a Polícia Federal”, explicou o superintendente da PC.
Caso em João Pessoa
A situação foi reportada pelo candidato Ruy Carneiro (Podemos) na semana passada. Ele procurou a PF para ter apoio durante a campanha, após ter sido barrado de participar de uma plenária em um circo na comunidade Boa Esperança, no bairro do Cristo.
A ordem para não realizar o evento, segundo o dono do circo disse ao candidato, teria partido de membros de facções criminosas que teriam preferência por outro candidato.
O Conversa Política teve acesso a novo áudio que consta nas investigações de um caso relatado em João Pessoa. Nele, o proprietário do empreendimento volta a relatar temor com a atuação dos criminosos e afirma que a ordem do comando era para passar atirando.
“A gente escapou por pouco. Fui lá, conversei com ele, pedi desculpa, mas infelizmente para fazer um evento desses tem que falar com esses caras. A prefeitura deixou isso acontecer…”
Confira o áudio na íntegra:
Áudio.mp3
Investigação da Polícia Civil
Na mesma noite, Ruy Carneiro também registrou um Boletim de Ocorrência na Cidade da Polícia, ao lado da candidata a vice-prefeita da chapa, Amanda CSI (MDB).
O superintendente da PC, Cristiano Santana confirmou ao Conversa Política que a Delegacia de Repressão Entorpecentes, que está sob responsabilidade do delegado Allan Terruel, já iniciou a investigação no que se refere à denúncia de atuação do tráfico de entorpecentes na área.
Segundo o delegado, o dono do circo foi ouvido ontem na delegacia e negou que tenha havido pressão de traficantes para impedir a realização da plenária. “Ele disse que achava que seria um evento circense e que pediu que o ato não fosse realizado por preocupação com a justiça eleitoral”, afirmou.
O Conversa Política entrou em contato com a assessoria da PF. Em resposta foi dito que “não pode tem autorização para passar informações sobre investigações ou inquéritos”.
Outros candidatos temem interferência
O assunto é preocupação antes mesmo do início da campanha eleitoral por parte da Justiça Eleitoral e do Ministério Público Eleitoral e também de postulantes à disputa eleitoral.
Também candidato a prefeito da capital, o ex-ministro Marcelo Queiroga (PL) manifestou preocupação sobre essa interferência do crime organizado durante a campanha eleitoral na capital e cobrou apoio das autoridades.
Candidato a prefeito pelo PT, Luciano Cartaxo também demonstra preocupação com o cerceamento nas eleições deste ano. “A gente percebe que a população está amedrontada, sobretudo as famílias que vivem nas comunidades, que são obrigadas a conviver diariamente com a opressão das facções. Eu me solidarizo com essas pessoas mais humildes e trabalhadoras. Essa situação tem que acabar! O poder público precisa retomar o controle dos territórios, precisa intervir com suas forças de segurança, com saúde e educação, precisa oferecer dignidade e cidadania. Muitas pessoas querem declarar o voto na gente, reconhecem o trabalho que fizemos quando prefeito de João Pessoa, mas se sentem coagidos em tornar seu voto público, por medo dessas facções. Nós queremos eleições limpas, que todos os candidatos tenham o mesmo direito de circular pela cidade. Que possamos democraticamente apresentar nossa proposta, e o povo não sofra ameaças por desejar mudança na gestão municipal”, disse.
O candidato a prefeito Yuri Ezequiel (UP) também disse que tem tido preocupação com o caso. “Até porque foi vinculada recentemente uma operação da Polícia Federal que invenstiga uma relação entre o crime organizado junto à própria gestão da prefeitura, até o momento isso não foi devidamente apurado”, comentou.
Apesar disso, ele afirmou que tem visitado comunidades e locais que tem relação com diversos movimentos populares e até o momento não tivemos nenhuma interferência. “Vamos seguir construindo as campanha, apresentando o nosso programa popular e socialista em cada viela, vila, comunidade, favela da nossa cidade”, disse.
Já o candidato a prefeito pelo PCO, Camilo Duarte, falou ser contra a interferência da polícia nas comunidades.
“O tráfico é parte um investimento capitalista, que consegue altíssimos lucros devidos aos riscos. A luta entre facções expressa a luta de interesses de setores da burguesia, e a guerra contra o tráfico acaba sendo apenas um instrumento de opressão da população. Apesar nos colocamos contra o uso, somos absolutamente favoráveis à descriminalização das drogas. Essa é a única forma de acabar com esse mercado ilegal e suas consequências, inclusive nas eleições”, analisou Camilo Duarte.
O prefeito Cícero Lucena (PP), candidato à reeleição, disse que tem plena confiança no trabalho da Polícia Civil, da Polícia Federal e da Justiça Eleitoral para apurar e impedir qualquer interferência externa nas eleições. “Infelizmente, a atuação do crime organizado é um problema que afeta todas as grandes e médias cidades do país. O enfrentamento dessa questão deve ser realizado por meio de policiamento preventivo, justiça social, cidadania e educação. Na prefeitura de João Pessoa, por iniciativa da nossa gestão, exigimos desde 2021 que todos os servidores apresentem, no ato da contratação, certidões negativas cíveis e criminais de todas as instâncias”, afirmou.