Foto/Divulgação.
O nome de batismo é Arlette, mas ela é conhecida e amada pelos brasileiros como Fernanda Montenegro.
Nesta quarta-feira, 16 de outubro de 2024, a extraordinária atriz de teatro, televisão e cinema faz 95 anos. Há muito tempo é reconhecida como uma das grandes personalidades da vida nacional.
Teatro, televisão e cinema. Coloquei nessa ordem porque foi assim mesmo que aconteceu na vida de Fernanda Montenegro.
Já há teatro na década de 1940. Televisão, no início da década de 1950. E cinema, um pouco mais tarde, a partir de meados dos anos 1960.
No teatro, Fernanda fez de Molière a Nelson Rodrigues, de Pirandello a Millôr Fernandes, de Harold Pinter a Gianfrancesco Guarnieri, de Samuel Beckett a Chico Buarque, de Eugene O’Neill a Gerald Thomas.
Sim. No palco, ela fez tudo. E há pouco, quando estava às vésperas da idade a que chega hoje, entrou em cena para interpretar textos de Simone de Beauvoir.
Na televisão, estava nos primórdios, na TV Tupi de Assis Chateaubriand do começo dos anos 1950. Acompanhou a evolução da nossa teledramaturgia, fez parte da sua história, e, lá na frente, foi brilhar nas novelas da Globo.
Quem não se lembra de Fernanda Montenegro contracenando com Paulo Autran em Guerra dos Sexos?
A lembrança pode ser óbvia, mas é justa porque o que se tinha ali era o encontro de dois gigantes do palco atuando no veículo que de fato deu popularidade e dimensão nacional a artistas como Fernanda e Paulo Autran.
No cinema, Fernanda Montenegro começou em A Falecida, de 1965. Tem Fernanda e Paulo Gracindo sob a direção do cinemanovista Leon Hirszman nessa notável adaptação de Nelson Rodrigues para a telona.
Sob a batuta de Hirszman, Fernanda Montenegro teve uma das mais belas e comoventes atuações da sua carreira. Ela foi a Romana de Eles Não Usam Black-Tie ao lado de Gianfrancesco Guarnieri, que fez Otávio, seu companheiro de vida e luta no filme de 1981 que é uma adaptação desse clássico do teatro brasileiro.
Gosto de lembrar da Fernanda Montenegro que está em Tudo Bem, que Arnaldo Jabor realizou em 1978. Fernanda e – outra vez – Paulo Gracindo vivendo num cenário micro que, no fundo, é retrato desconcertante do Brasil macro.
Claro que há a Fernanda Montenegro de Central do Brasil, de 1998. É o momento da retomada do cinema brasileiro, que Fernando Collor, quando presidente, havia dizimado em 1990. Quase deu o Oscar de Melhor Atriz a Fernanda, cujo talento estarreceu Gregory Peck, lenda do cinema dos Estados Unidos.
Fernanda Montenegro foi casada com o ator Fernando Torres, que morreu em 2008. Fernanda Montenegro é mãe da atriz Fernanda Torres, que nasceu no ano de A Falecida. Fernanda Montenegro é da Academia Brasileira de Letras.
Um pouco antes da pandemia, quando vi A Vida Invisível, de Karim Aïnouz, passei o filme todo esperando pela entrada de Fernanda Montenegro em cena.
Ela só aparece no desfecho da trama. Faz, na velhice, a personagem que, na juventude, é interpretada por Carol Duarte.
A dimensão de Fernanda, o domínio absoluto do seu ofício – está tudo naqueles poucos minutos em que ela ilumina a tela no admirável filme do cearense Karim Aïnouz.
Agora, no momento em que Fernanda Montenegro faz 95 anos, esperamos para vê-la em Ainda Estou Aqui. No novo filme de Walter Salles, ela faz, na velhice, a personagem que, na juventude, é interpretado por sua filha Fernanda Torres.
As duas Fernandas são Eunice Paiva. Eunice, a viúva do deputado Rubens Paiva, que foi sequestrado e morto pela ditadura militar.
Hoje, 16 de outubro de 2024, é dia de celebrar a vida e a trajetória de Fernanda Montenegro, essa brasileira imensa.