Hoje, no Dia da Consciência Negra, é o momento perfeito para refletirmos sobre as desigualdades que ainda existem na saúde — e como a tecnologia, que deveria ajudar, às vezes piora as coisas.
Parece estranho, né? Mas um estudo recente publicado no Annals of Internal Medicine mostrou que até os algoritmos usados por médicos e hospitais podem perpetuar desigualdades raciais.
Vamos entender isso juntos.
O que são os algoritmos?
Os algoritmos de saúde são como ¨super cérebros tecnológicos¨ que ajudam a prever doenças, sugerir tratamentos e organizar prioridades no sistema de saúde. O problema? Muitos desses algoritmos foram criados usando dados que não incluem de forma justa as populações negras. Isso significa que essas ferramentas, sem querer, acabam subestimando problemas graves em pessoas negras e até atrasando diagnósticos importantes.
Por exemplo, imagine que você está com sintomas preocupantes e precisa de uma avaliação urgente. Se o algoritmo “achou” que sua condição não é tão séria porque foi baseado em padrões que não consideram adequadamente pessoas da sua etnia, o atendimento pode demorar ou nem acontecer como deveria. Isso é mais comum do que parece e afeta diretamente as taxas de mortalidade e complicações entre populações negras.
Por que isso importa para todos nós?
Essa questão vai além de números e gráficos científicos. Afeta vidas.
Estudos mostram que populações negras enfrentam maiores riscos de mortalidade materna, doenças cardíacas mal tratadas e até menor acesso a tratamentos de câncer. Com a tecnologia entrando cada vez mais no dia a dia dos hospitais, não podemos permitir que ela amplie as desigualdades que já existem.
Dia da Consciência Negra: Desigualdades na Saúde da População Negra no Brasil
No Dia da Consciência Negra, é fundamental refletirmos sobre as desigualdades que afetam a saúde da população negra no Brasil. Dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde revelam disparidades preocupantes que exigem nossa atenção.
Mortalidade Materna e Infantil
Entre 2019 e 2024, no Rio Grande do Norte, 60% dos óbitos maternos e infantis ocorreram entre mulheres negras. Esses números refletem uma realidade nacional, onde mulheres negras enfrentam maiores riscos durante a gestação e o parto.
Doença Falciforme
A doença falciforme, uma condição genética que afeta predominantemente a população negra, apresenta uma taxa de mortalidade de 0,22 por 100 mil habitantes entre 2014 e 2020. Pessoas entre 20 e 29 anos correspondem ao maior percentual de mortes pela patologia no país.
Violência Letal
Em 2021, a população negra respondeu por 77,1% dos mortos por homicídios no Brasil, indicando que o risco de negros morrerem assassinados é 2,9 vezes maior do que o de não negros.
Acesso a Tratamentos
Além das taxas de mortalidade, o acesso a tratamentos de saúde também é desigual. A população negra enfrenta barreiras no acesso a serviços de saúde de qualidade, o que contribui para a perpetuação dessas disparidades.
Como podemos mudar isso?
Para resolver esse problema, precisamos garantir que os dados usados para criar os algoritmos sejam mais representativos. Isso significa incluir informações de pessoas de todas as origens raciais, considerando também fatores sociais e ambientais que influenciam na saúde. Além disso, profissionais de saúde precisam ser treinados para entender e questionar os “palpites” dessas ferramentas, garantindo que o atendimento seja humano e igualitário.
Vamos refletir juntos
No Dia da Consciência Negra, o convite é para refletirmos sobre como a tecnologia pode ser usada para construir uma saúde mais justa. Precisamos de ferramentas que não só avancem a medicina, mas que também garantam que todos tenham as mesmas chances de viver bem e com dignidade. Porque no final das contas, a saúde é um direito, e ela não pode depender da cor da pele ou de um erro no código de um programa.
Então, quando você ouvir falar de inteligência artificial ou avanços na medicina, lembre-se: a tecnologia é incrível, mas só faz sentido se for para melhorar a vida de todos, sem exceção.
Saúde Alerta: Informando para prevenir e proteger.
André Telis de Vilela, é médico, cirurgião cardiovascular, doutor em medicina pela UNIFESP e professor da UFPB. Colunista de saúde do Jornal da Paraíba, Tv Cabo Branco e rádio CBN.