Foto: Reprodução/Tv Cabo Branco.
O viés exageradamente político das análises realizadas por especialistas e agentes públicos da Paraíba prejudicam a nossa capacidade de enxergar os verdadeiros desafios para o desenvolvimento do Estado. Os exemplos são vastos.
Observamos há pouco tempo a comemoração de um crescimento econômico de dois anos atrás, sem atentarmos para o fato de que um terço da economia paraibana se desenvolveu fruto da administração pública. Ou seja, mais de 30% do crescimento poderia ser explicado pela expansão de cargos, salários e demais benefícios ligados ao setor público.
Não conseguimos perceber que a indústria de transformação só possui 7% de participação na economia paraibana. E o mais grave, enquanto o Nordeste viu crescer a participação industrial no valor adicionado da indústria nacional entre 2010 e 2022 (de 9% para quase 14%), a Paraíba registrou um declínio no mesmo período (de 0,6% para cerca de 0,4%).
A arrecadação do Estado é altamente dependente das transferências do governo federal. Dos R$ 16 bilhões do orçamento estadual de 2024, R$ 7 bilhões veem de transferências constitucionais, enquanto pouco menos de R$ 6 bilhões são fruto da arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Em outras palavras, a capacidade de arrecadação do principal imposto estadual – ligado à atividade produtiva -, é menor do que a transferência recebida dos outros Estados.
Fechamos os olhos para o fato de possuirmos uma alta dependência de programas sociais. Para cada 10 domicílios paraibanos com algum membro no mercado formal, temos 13 domicílios com pessoas no programa bolsa família. Quase 50% da força de trabalho é informal, número bem acima da média nacional (de 38%).
Renda
Somos detentores de uma renda baixa e altamente concentrada. Os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam a Paraíba como o Estado mais desigual do Brasil (índice de Gini de 0,56). Se fossemos um país, seríamos a quinta nação mais desigual do mundo, só atrás de África do Sul, Namíbia, Zâmbia e República Centro Africana.
Agora observamos uma queda expressiva no desemprego e soltamos confetes. Os dados do IBGE indicam que a taxa de desemprego atual no Estado da Paraíba atingiu o menor patamar histórico, desde 2012, chegando a 8,7% (acima da média brasileira de 7%).
Para entendermos bem esse número, é preciso ter em mente o conceito de taxa de desemprego. Isto é, a razão entre o número de pessoas com idade para trabalhar (acima de 14 anos) que não estão trabalhando e continuam à procura de emprego sobre a população apta a trabalhar. Logo, um estudante que não trabalha, não pode ser considerado um desempregado. Da mesma forma, uma pessoa que não está à procura de emprego também não pode ser considerada um desempregado.
Desemprego
Dito isso, há uma possibilidade de queda na taxa de desemprego pelo simples fato de as pessoas saírem da força de trabalho. Uma hipótese razoável em um estado com elevada dependência de políticas sociais.
Pois bem, ao comparar os dados de 2012, início da série histórica do IBGE, com o último dado disponível para a Paraíba, pôde-se observar que a taxa de participação na força de trabalho caiu de 56,45% para 53,79%. Isso significa que uma proporção menor da população em idade ativa estava trabalhando ou procurando emprego em 2025 em comparação com 2012.
Se a taxa de participação de 2012 tivesse se mantido em 2025, a taxa de desemprego do Estado da Paraíba seria 13%, quase duas vezes superior à média brasileira. Ou seja, temos menos pessoas procurando emprego não porque elas o encontraram e sim porque parte delas não querem trabalhar.
Para finalizar, deixo claro que não quero desmerecer os esforços da Paraíba na superação de seu subdesenvolvimento. Mas acredito que só um diagnóstico apurado da nossa realidade econômica pode nos ajudar a traçar um caminho sustentável para a melhoria do bem-estar de nossa população. Parafraseando o Físico Carl Sagan: “Prefiro a verdade dura à fantasia consoladora, pois, no cômputo final, os fatos geralmente revelam-se mais consoladores”.
Erik Figueiredo – economista paraibano, Diretor Executivo do Instituto Mauro Borges, professor da UFPB e Pesquisador nível 1 do CNPq.