Casco aconteceu no Isea em Campina Grande.
Foto: Leonardo Silva/Arquivo.
A sindicância feita pela prefeitura de Campina Grande para investigar as causas da morte de Maria Danielle Cristina Morais Sousa, de 38 anos, foi prorrogada por mais 30 dias. A paciente morreu menos de um mês depois de ser atendida no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), de ter o útero retirado e o bebê dela morrer no momento do parto.
Veja a portaria com a prorrogação (a partir da página 7)
Esta é a segunda vez que a investigação municipal é prorrogada. Dessa vez, o prazo acaba em 19 de junho. Já o período da primeira prorrogação chegou ao fim na semana passada.
A prorrogação foi oficializada por meio de uma portaria publicada em uma separata do Semanário Municipal de Campina Grande, nesta terça.
Por outro lado, a previsão da equipe jurídica do município é que a emissão do relatório final da investigação aconteça antes do fim do prazo da prorrogação. O jurídico do município também destacou que a ampliação foi necessária por conta do período de luto do marido de Maria Danielle, Jorge Elô, que foi o último ouvido.
A Polícia Civil e outros órgãos seguem investigando a suspeita de negligência médica, mas não há resultados até o momento.
Na época em que Danielle perdeu o bebê e teve o útero retirado, a gestão anunciou o afastamento dos profissionais que atenderam a gestante.
O Ministério Público da Paraíba afirmou que está aguardando o resultado das sindicâncias da Secretaria Municipal de Saúde, do Conselho Regional de Medicina (CRM) e do Conselho Regional de Enfermagem (Coren) que foram solicitadas dentro do procedimento instaurado.
O Jornal da Paraíba não conseguiu contato com a Polícia Civil da Paraíba para saber como estão as investigações. Até o dia 11 de abril, o delegado Renato Leite, responsável pela investigação, declarou que os médicos do Isea foram ouvidos, restando apenas a oitiva da equipe de enfermagem e dos técnicos. Os exames periciais também ainda não estavam prontos.
O caso foi denunciado nas redes sociais pelo marido de Danielle, Jorge Elô, que afirmou que o filho do casal morreu na maternidade após a mãe ter recebido uma superdosagem de um medicamento para induzir o parto, ocorrido no início de março.
No dia de sua morte, Maria Danielle sofreu uma dor de cabeça intensa, começou a gritar e caiu. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) socorreu a mulher e a levou ao Hospital Pedro I, onde ela não resistiu e faleceu ainda na tarde do mesmo dia. Danielle havia se recuperado recentemente de uma cirurgia e recebido alta dois dias antes.
De acordo com a Secretaria de Saúde de Campina Grande, ela foi internada com sinais de um possível Acidente Vascular Cerebral hemorrágico e, apesar dos esforços médicos, não sobreviveu.
Jorge Elô é marido de Danielle, mulher que morreu após perder filho e útero..
Reprodução/Instagram (@jorge.elo)
Entenda o caso
O marido de Danielle denunciou nas redes sociais que o filho morreu na maternidade Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), em Campina Grande, após a mãe da criança receber uma superdosagem de um medicamento para induzir o parto. Segundo ele, a complicação também levou à retirada do útero da gestante.
Segundo o pai da criança, Jorge Elô, a mulher deu entrada na unidade hospitalar no último dia 27 de fevereiro. Na manhã do dia seguinte, exames indicaram a viabilidade de um parto vaginal, e a equipe médica iniciou a indução com comprimidos intravaginais.
Naquele momento, souberam que o mesmo médico que realizava o pré-natal particular da gestante estaria de plantão naquela noite no ISEA. Na madrugada do dia 1º de março, o médico substituiu a medicação por uma intravenosa, intensificando as contrações.
Por volta das 6h daquele dia, segundo relato do pai, duas enfermeiras do hospital atenderam a mãe da criança. Uma constatou que a cabeça do bebê já estava coroada, enquanto a outra aumentou a dosagem da medicação sem, segundo ele, consultar o médico.
Parto aconteceu na maternidade do Isea, em Campina Grande
“Ela começou a vomitar e a tremer de frio. Ao procurarmos ajuda, ouvimos que era ‘normal’. Desesperada, [a vítima] implorou para não ficar sozinha, mas as profissionais a abandonaram, alegando ter outras gestantes para atender. Nosso médico de confiança havia ido embora do plantão sem sequer nos ver”, afirmou nas redes sociais.
Ainda de acordo com Jorge Elô, o trabalho de parto parou de evoluir, e as profissionais teriam culpado Danielle por não ter “colaborado”. O pai relatou que, minutos depois, elas teriam forçado a mulher a fazer força, mas ela desmaiou e estava sem pulso. Nesse momento, a levaram às pressas para a cirurgia.
Em entrevista à rádio CBN João Pessoa, o pai da criança afirmou que, após sua esposa ser levada para a sala de cesárea, ficou sem notícias sobre o que estava acontecendo. Quando finalmente entrou no local, viu a equipe médica retirando o bebê já sem vida e segurando o útero da mãe.
Foto: divulgação/CRM-PB.
‘Confiava estar segura’, diz marido
Jorge Elô, marido de Maria Danielle Cristina Morais Sousa, que morreu após um parto no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), em que perdeu o bebê e o útero, disse que ela estava confiante por saber que seria atendida pelo médico que havia acompanhado a gestação. “Chorou ao ver o médico, disse que confiava estar segura”.
A afirmação foi feita em uma carta aberta, feita pelo marido de Danielle e pai do bebê para o prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima. Em uma coletiva nesta quarta-feira (26), a Prefeitura de Campina Grande afirmou que a morte de Danielle não teve relação com o parto no Isea, mas com uma condição genética pré-existente.
O professor, marido de Danielle e pai do bebê, começa a carta falando que a esposa teve um trombo aos seis meses de gestação. Ele ressalta que, no entanto, que a gestante foi bem acompanhada e medicada pelo mesmo médico que fez o parto.
Jorge Elô continua a carta contando que no dia 25 de fevereiro, três dias antes do parto, o casal foi ao médico, em uma consulta particular, e estava tudo bem com o bebê e com a gestante.