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A turnê de Caetano Veloso e Maria Bethânia começa no Rio, neste sábado, três de agosto de 2024. Até dezembro, o show vai passar por diversas capitais brasileiras.
Caetano Veloso e Maria Bethânia fizeram um belo álbum ao vivo em 1978, e essa turnê de agora sugere uma reaudição do disco de 46 anos atrás.
Alguns discos de música popular brasileira marcaram o ano de 1978. Houve Transversal do Tempo, de Elis Regina, Água Viva, de Gal Costa, Álibi, de Maria Bethânia, e Cigarra, de Simone.
Gilberto Gil fez sua estreia em Montreux, e o show virou um álbum duplo. Na Antologia do Samba Choro, ele revisitara clássicos do gênero em versões black Rio no mesmo ano em que Luiz Melodia fez Mico de Circo.
Luiz Gonzaga Jr., o Gonzaguinha, fez Recado, e Ivan Lins, Nos Dias de Hoje. Eram os caras explicitamente engajados nas manifestações contra a ditadura militar.
Edu Lobo lançou Camaleão. Moraes Moreira, Alto Falante. Belchior, Todos os Sentidos. Rita Lee, Babilônia. Egberto Gismonti, Nó Caipira. Cobra de Vidro marcou o encontro do MPB4 com o Quarteto em Cy, que, oito vozes unidas, fizeram Because, dos Beatles.
“Trama em segredo teus planos/Parte sem dizer adeus”. Num álbum sem título, Paulinho da Viola cantava Coração Leviano.
Houve também o Jorge Ben de A Banda do Zé Pretinho, o Caetano Veloso de Muito e o Chico Buarque daquele álbum que não tem nome e trouxe, finalmente, as censuradas Cálice e Apesar de Você.
E houve o gigantesco Clube da Esquina 2, de Milton Nascimento. Bituca e seus amigos num disco duplo que, de tão bom, parece inacreditável.
Tudo isso me lembra e me remete nostalgicamente ao ano de 1978. Tudo isso é 1978. Do mesmo modo que o álbum Maria Bethânia e Caetano Veloso ao Vivo, reouvido agora.
Bethânia canta: “Minha mãe me deu ao mundo/De maneira singular/Me dizendo a sentença/Pra eu sempre pedir licença/Mas nunca deixar de entrar”.
Caetano canta: “Meu pai me mandou pra vida/Num momento de amor/E o bem daquele segundo/Grande como a dor do mundo/Me acompanha onde eu vou”.
É Tudo de Novo, composta por Caetano, música que abre o álbum. Ele e ela se autoapresentando na letra de uma canção inédita.
“Pega, mata e come”. Quem canta Carcará é Caetano. Carcará lançou Bethânia nacionalmente em 1965 no palco do espetáculo Opinião, que ela dividia com Zé Keti e João do Vale.
“É engraçado a força que as coisas parecem ter quando elas precisam acontecer” – diz Caetano antes de fazer Carcará.
Caetano voz e violão. Número Um evoca Orlando Silva. Maria Bethânia evoca Nelson Gonçalves. Caetano sugeriu que a irmã tivesse esse nome por causa da valsa de Capiba.
Bethânia solo. O que Tinha de Ser evoca Tom e Vinícius e a Elizeth Cardoso de Canção do Amor Demais. Falando Sério evoca Roberto Carlos.
O Leãozinho junta as duas vozes, unidas também na guarânia Meu Primeiro Amor. O Leãozinho troca o violão do registro original pela banda inteira.
Reino Antigo e Adeus, Meu Santo Amaro são singelas recordações de Santo Amaro da Purificação, onde tudo começou.
João e Maria e Maninha são contemporâneas do show. Chico Buarque com Sivuca na primeira. Chico sozinho na segunda. João e Maria, que a gente ouvia com Chico e Nara. Maninha, com Chico e Miucha, no disco desta com Jobim.
São duas valsas. Evocam o passado, falam do presente. São lindas de doer nas vozes de Caetano e Bethânia.
O piano elétrico de Tomás Improta remete à Outra Banda da Terra, que acompanhava Caetano. O violão de Rosinha de Valença parece coisa de Bethânia. Tem ainda a guitarra de Perinho Santana e o baixo de Jamil Joanes.
“A ninguém revelarei o meu segredo/E nem direi quem é o meu amor”. Duas vozes. Doce Mistério da Vida fecha o álbum. É versão de um standard que pertence ao mundo.
Maria Bethânia e Caetano Veloso ao Vivo é de 1978. Tem 46 anos. Caetano e Bethânia se reencontram em shows agora em 2024. Em 1978, ele tinha 36 anos. Está com 82. Ela tinha 32. Está com 78. Será que vão retomar alguma música de tantos anos atrás?