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Charles Chaplin é um gênio que está sendo esquecido?

CBN Paraíba

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Foto/Reprodução.

Na adolescência, li um livro sobre Charles Chaplin organizado por Carlos Heitor Cony. Um dos textos daquela compilação dizia que Chaplin era um gênio de uma arte nova.

Mal nascera o cinema, sua gramática ainda nem estava totalmente escrita, e já havia nele um artista que merecia ser chamado de gênio.

Houve um tempo em que os filmes de Charles Chaplin foram retirados do mercado. Clássicos como Em Busca do Ouro, Luzes da Cidade, Tempos Modernos e O Grande Ditador não estavam ao alcance das novas gerações de cinéfilos. Ficaram guardados na memória de quem os vira muitos anos atrás.

Fui contemporâneo do relançamento da década de 1970, um pouco antes da morte do artista. Na época em que seu último filme – A Condessa de Hong Kong – era um acontecimento recente. Bem como a sua volta aos Estados Unidos para uma homenagem na festa do Oscar. Muitos ainda esperavam que, no fim da vida, Chaplin surpreendesse o mundo com um novo trabalho.

Ao contrário de John Ford e Alfred Hitchcock, ou mesmo Ingmar Bergman, Charles Chaplin fez poucos filmes (não estou considerando os de curta-metragem do início da carreira). Foram apenas 11, entre o começo da década de 1920 e meados da de 1960.

Em dois, dirigiu, mas não atuou. Em seis, viveu na tela o personagem Carlitos, se considerarmos que o vagabundo está no barbeiro judeu de O Grande Ditador. Em três, interpretou outros personagens.

Era um perfeccionista envolvido com todo o processo de realização de um filme. Escrevia, produzia, dirigia, interpretava, compunha a música. Era um artista completo.

Sua luta com o cinema falado está registrada em três momentos. Luzes da Cidade foi realizado no instante em que o som substituiu o silêncio. Chaplin não aderiu.

O filme tem música, mas os atores permanecem mudos. A cena final é uma das mais belas e expressivas de que se tem conhecimento. Sem palavra alguma.

Tempos Modernos chegou às telas quando o som não era mais novidade. Chaplin insistiu em não dar voz aos seus personagens. Quando o vagabundo canta, o faz numa língua que não existe.

Em O Grande Ditador, rendeu-se, finalmente, ao cinema falado. Só que Carlitos troca de indumentária para pronunciar as palavras do seu discurso.

Em Busca do Ouro flagra Chaplin no ápice da sua criação. Tem algumas das mais expressivas imagens do cinema silencioso. Entre elas, a singelíssima dança dos pequenos pães. Luzes da Cidade é outra obra-prima absoluta.

Tempos Modernos é extraordinário como fundo e forma. O humanismo do personagem ultrapassa os limites do tempo. O engajamento do artista marca a época em que o filme foi realizado.

Luzes da Ribalta põe Charles Chaplin e Buster Keaton frente a frente. Conta a história de um palhaço decadente e antecede o momento em que Chaplin teve que deixar a América. A morte de Calvero no palco é como a morte do seu criador. Ao som de Limelight.

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Escrevi esse texto há uns 15 anos. Um tempo depois, mexi um pouco e republiquei mais ou menos do jeito que aparece na coluna desta segunda-feira, 14 de abril de 2025.

Charles Chaplin me traz a lembrança de Glauber Rocha. Pode parecer estranho, mas é porque Glauber dizia que a imagem de Carlitos era a maior imagem estética do século XX e que, no cinema, somente ela resistiria ao século XXI.

Glauber Rocha acertou muito, sobretudo nos filmes extraordinários que realizou. Mas errou quando fez esse prognóstico sobre a permanência da imagem de Carlitos.

Ainda se falava um bocado sobre Charles Chaplin até a década de 1990. No início dos anos 2000, tentei mostrar O Garoto a duas crianças, e elas se queixaram da ausência não do som (o filme tem música), mas do fato de que os personagens não falam.

Converso um bocado com muita gente sobre cinema, filmes clássicos, gêneros, grandes realizadores. Exemplares do noir dos anos 1940, o cinema italiano da década de 1960, a Nouvelle Vague, os filmes americanos dos anos 1970 que já se tornaram clássicos.

E Charles Chaplin? Nada. Silêncio absoluto. Será que o artista genial que criou a figura de Carlitos está sofrendo um apagamento? É triste, se for verdade. 

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