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O professor Delfim Netto morreu nesta segunda-feira, 12 de agosto de 2024. O ex-ministro dos governos da ditadura militar estava hospitalizado em São Paulo.
Em 2024, o Brasil perdeu dois grandes nomes do pensamento econômico. Em junho, Maria da Conceição Tavares, aos 94 anos. Agora, Delfim Netto, aos 96.
Li que Maria da Conceição, que era desbocada, disse que Delfim era canalha e culto. O mais culto de uma turma de economistas que pontificou no Brasil das últimas décadas.
Maria da Conceição Tavares era de esquerda. Celso Furtado, nem tanto. Roberto Campos, Delfim Netto e Mário Henrique Simonsen eram todos de direita. Mas, de tão extraordinariamente inteligentes, parávamos para ouvi-los.
Canalha e culto pegam bem em Delfim. Culto, cultíssimo, isso nele era indiscutível. Já o canalha cabia perfeitamente no homem que, pior do que ter servido a vários governos da ditadura, assinou o AI-5. Assinou em dezembro de 1968 e seguiu em sua defesa.
Instrumento do arbítrio, o AI-5 é indefensável. Já o milagre econômico, do qual Delfim foi um dos fiadores, remete, inevitavelmente, à frase do presidente Médici: “A economia vai bem, mas o povo vai mal”.
Delfim Netto sobreviveu ao fim da ditadura militar. Foi para o parlamento e teve a capacidade de se reciclar, de se adaptar ao Brasil que reconstruía a democracia.
Em São Paulo, por muitos anos, recebeu gente de direita e também gente de esquerda a quem dava conselhos de grande utilidade. Elogiou as conquistas dos primeiro governos do presidente Lula e foi ouvido tanto por Lula quanto por Dilma Rousseff.
Em 1982, entrou na letra de uma música de Caetano Veloso como representante de algo negativo: “Delfim, Margareth Thatcher, Menachem Begin/Política é o fim”.
Política é o fim, mas não há saída fora dela. Antônio Delfim Netto fez política pondo em prática o pensamento econômico. Era brihante, goste-se dele ou não. Pertenceu a um tempo em que havia vida inteligente na direita brasileira.