Foto/Reprodução.
Edilane Araújo, que foi apresentadora da TV Cabo Branco por mais de 30 anos (de 1986 a 2019), está fazendo 60 anos nesta terça-feira, oito de outubro de 2024. Em viagem pela Europa, hoje ela deve estar em Portugal.
É preciso ter cuidado quando falamos em público sobre a idade das pessoas. Às vezes elas não gostam. Mas me senti liberado quando vi que a própria Edilane foi às redes sociais e postou sobre os seus 60 anos.
Primeiro, ela se revelou no palco, fazendo teatro. Depois, veio a voz no rádio. A televisão parece ter sido a soma das duas experiências. Em 1986, dos testes iniciais, no auditório do Hotel Tropicana, ao primeiro telejornal, foram alguns meses.
A estreia de Edilane Araújo – aos 22 anos – no vídeo aconteceu na fase em que a TV Cabo Branco, a primeira emissora de televisão de João Pessoa, operou em caráter experimental. Lá se vão 38 anos.
A TV Cabo Branco entrou no ar em caráter definitivo no primeiro dia de 1987, como afiliada da Rede Globo. Muita gente não sabe que, antes, entre outubro e dezembro de 1986, ficou no ar em fase experimental, transmitindo o sinal da Band.
O primeiro telejornal posto no ar foi o Câmera 7. Depois veio o Jogo Aberto. Com o nome emprestado de um programa radiofônico e editado por Wernek Barreto, o Jogo Aberto ia ao ar na hora do almoço e era apresentado por ela.
Edilane Araújo ainda não imaginava, mas, no fundo, ela estava se preparando para um grande desafio: ocupar o horário de maior audiência, o do telejornal noturno da emissora.
Nos primeiros tempos da TV Cabo Branco como afiliada da Globo, os telejornais se chamavam JCB (Jornal da Cabo Branco). O nome JPB (Jornal da Paraíba) veio depois.
Quando Edilane assumiu a bancada do JPB2, não era usual que os telejornais da noite fossem apresentados por uma mulher. Havia pioneirismo na decisão do jornalismo da emissora, comandado por Erialdo Pereira.
Fomos parceiros por quase duas décadas. Eu, na edição. Ela, na apresentação. Começamos na TV Cabo Branco quando a TV Cabo Branco começou.
Em 1986, o Brasil do Plano Cruzado era governado por José Sarney. A Paraíba, por Milton Cabral. O prefeito de João Pessoa era Carneiro Arnaud. O de Campina Grande, Ronaldo Cunha Lima. Os Estados Unidos eram governados por um velho ator de cinema, Ronald Reagan. A União Soviética ainda existia! O muro de Berlim, também!
Na redação, usávamos máquinas de datilografia. Computadores, só uma década mais tarde. Nem todo mundo tinha vídeo cassete em casa. Muito menos CD.
DVD? Blu-ray? Internet? Telefones móveis? Smartphone? Google? Facebook? Instagram?Netflix? Serviços de streaming? Whatsapp? Era tudo coisa do futuro!
Fizemos jornalismo num tempo de grandes transformações. No Brasil, vimos o nascimento de uma nova Constituição, o fim da censura prévia, a retomada das diretas para presidente, o avanço da cidadania num país afinal redemocratizado. Vimos a estabilidade da moeda e a chegada de um operário na presidência.
Fizemos jornalismo nesse cenário de adequação ao novo. O novo das conquistas tecnológicas e o novo nos campos político e ideológico. Mas também mantivemos valores e conceitos que, no nosso ofício, ainda não perderam a validade.
O cânone que nos guiou continua guiando as redações e seus profissionais. Ou ao menos parte deles. O compromisso com a verdade, com a informação correta. A checagem obsessiva para evitar o erro imperdoável. O espaço para as vozes divergentes. Tudo isso.
Às vésperas do ano 2000, discutíamos jornalismo comunitário em busca de mais diálogo com a audiência. Nas nossas imersões, fazíamos projeções para os próximos 10 ou 15 anos e estávamos quase sempre errados. Os telejornais mudaram menos do que imaginávamos. Ainda têm muito do modo clássico de fazer telejornal.
Mas houve o furacão das redes sociais! Esse, quando começamos, só cabia mesmo em filme de ficção científica!
Hoje, no dia em que Edilane Araújo, essa amiga querida, completa 60 anos, consigo vê-la em tudo isso do que estou falando.
E fico lembrando do seu profissionalismo, seu perfeccionismo, seu alto nível de exigência – a sua postura enquanto o jornal era editado antecedia o que ia ao ar.
Numa luta diária para que não cometêssemos erros, para que não falhássemos operacionalmente. E, sobretudo, para que oferecêssemos ao telespectador a melhor informação, mais correta e mais crível.
Não tenho lembrança de que tenhamos cometido nenhum erro grave nas centenas de programas que editamos. Era compromisso nosso. Profissional, ético.
A garota que vimos no palco. A voz que ouvimos no rádio. Edilane Araújo logo se transformou na melhor cara da melhor televisão paraibana. Um verdadeiro sinônimo de apresentadora. Parabéns pra você!