Foto/Reprodução/Acervo pessoal.
Neste domingo, 11 de maio de 2025, fez 100 anos do nascimento de Rubem Fonseca. Um dos grandes escritores brasileiros, Fonseca era mineiro de Juiz de Fora e morreu em abril de 2020, poucos dias antes de completar 95 anos.
Na juventude, Rubem Fonseca trabalhou na polícia e depois foi para a Light. Sua presença, mais tarde, no Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPÊS) foi o que levou muita gente a defender a tese de que Fonseca deu apoio à ditadura militar.
Atuante já no governo de João Goulart, o IPÊS teria contribuído com projetos estratégicos e até peças de propaganda durante o regime militar iniciado em abril de 1964.
Rubem Fonseca pediu demissão do IPÊS no início do período militar, mas seu nome consta em documentos posteriores – uma mácula na sua vida de escritor.
É curioso que um escritor associado à defesa da ditadura militar tenha sido uma das suas vítimas e num dos momentos mais importantes da sua vida literária.
Em 1976, seu livro de contos Feliz Ano Novo foi censurado e teve a venda proibida por Armando Falcão, então ministro da Justiça do presidente Ernesto Geisel.
A proibição de Feliz Ano Novo, que hoje é facilmente encontrado nas livrarias, acabou se transformando num dos momentos mais simbólicos da ação da ditadura militar contra a produção dos artistas e intelectuais brasileiros.
Filha de Rubem Fonseca, Bia Corrêa do Lago trabalha atualmente na reconstrução da memória do pai, e um dos seus objetivos é fixar a imagem do homem com credenciais democráticas, em oposição ao homem que teria apoiado o regime de exceção.
Quem me levou a Rubem Fonseca foi Lúcia McCartney, Uma Garota de Programa, filme de David Neves. Interpretada pela inesquecível Adriana Prieto, Lúcia McCartney, o pseudônimo revela, era uma garota que gostava dos Beatles.
Lúcia McCartney era um conto de Rubem Fonseca que encontrei na coletânea de contos O Homem de Fevereiro ou Março, primeiro livro dele que li. Segui com O Caso Morel e, antes da proibição, ainda tive tempo de ler Feliz Ano Novo.
Tudo impactante. A crueza e a perfeição das narrativas. O texto enxuto e coloquial, mas de extraordinária qualidade literária. A condição humana desnudada em personagens tão comuns quanto as pessoas que a gente conhece. Sexo e violência tal como na vida real. Um certo jeito de cinema, que já era uma coisa que me interessava muito na época.
Misturando o Fonseca escritor com o Fonseca levado ao cinema, muito me impressionou ver A Extorsão, de Flávio Tambellini, um esquecido filme cinco estrelas. E, bem mais tarde, A Grande Arte, estreia de Walter Salles na direção.
Há quem diga que A Grande Arte é o melhor romance de Rubem Fonseca. Agosto, outro dos seus romances, a Globo transformou numa admirável minissérie. Engenhosíssima trama ficcional em torno da morte de Getúlio Vargas.
Neste domingo, na Folha, Sérgio Augusto, que é crítico de cinema e foi amigo de Rubem Fonseca, conta que, de tanto que o conhecia, entrevistou o escritor sem estar com ele. E citou o caso clássico do americano Gay Talese, que fez o mesmo com Frank Sinatra.
“Sinatra está gripado”, disse Gay Talese. Sérgio Augusto resistiu à tentação de dizer que “Rubem Fonseca nem sequer estava gripado”.