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Final de Conclave bate pesado na Igreja Católica

CBN Paraíba

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Foto/Divulgação.

A morte do papa João XXIII, em junho de 1963, é uma vaguíssima lembrança da minha infância. Eu só tinha quatro anos, e minha mãe disse que os sinos da Igreja do Rosário, em Jaguaribe, estavam tocando porque o papa tinha morrido.   

João XXIII é o papa do Concílio Vaticano II. À sua doce memória, Pier Paolo Pasolini, homossexual, marxista e ateu, dedicou o filme O Evangelho Segundo São Mateus

Paulo VI, seu sucessor, foi papa por 15 anos. O papa da encíclica Populorum Progressio. Estava saindo de uma sessão de Contatos Imediatos do Terceiro Grau, em agosto de 1978, quando o porteiro do Cine Plaza me deu a notícia da sua morte.

O papado de João Paulo I, seu sucessor, durou brevísimos 33 dias, e, aí, veio João Paulo II, polonês, pop, que fez a sua parte na derrocada do bloco socialista. João Paulo II, que vi de perto em sua passagem pelo Recife, em 1980, foi papa por longos 26 anos.

Ultraconservador, o alemão Bento XVI surpreendeu o mundo quando renunciou e se tornou papa emérito. E o argentino Francisco, o oposto de Bento, é papa desde 2013.

João Paulo I foi assassinado? É a tese de Francis Ford Coppola no desfecho da trilogia O Poderoso Chefão. Já que a Igreja não conta a história verdadeira, o cineasta ítalo-americano contou ao seu modo, misturando a Máfia com os negócios da Igreja. 

O filme de Coppola é ótima ficção. Já Dois Papas (2019) é como se não fosse. Dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, Dois Papas confronta a visão de Bento XVI com a do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, que, como Francisco, sucederia Bento. 

Os encontros do papa Bento XVI com o cardeal Bergoglio são fictícios, mas o teor das conversas corresponde à visão antagônica dos dois líderes católicos. O filme mergulha no pensamento deles e em questões cruciais enfrentadas pela Igreja.  

Em Dois Papas, Anthony Hopkins é o papa Bento XVI. Jonathan Pryce é o cardeal Jorge Mario Bergoglio. Os dois atores britânicos em memoráveis atuações. 

Agora é a vez de Conclave, dirigido pelo cineasta alemão Edward Berger. Conclave vai para a cerimônia do Oscar com oito indicações, incluindo a de Melhor Filme.

Sabem aqueles filmes muito bons, mas que não chegam a ser excepcionais? Foi a sensação que tive quando saí do cinema depois de ver Conclave

Fiquei imaginando um diálogo entre Dois Papas e Conclave. Dois Papas é mais profundo, dá conta de questões que vêm de longe e permanecem no cerne da Igreja Católica.

Conclave é como um thriller, um filme de ação, uma trama engenhosa, muito bem montada, sobre a guerra pelo poder na Santa Sé e na sucessão de um papa.

A reconstituição dos interiores foi na Cinecittà, em Roma, e impressiona pelo quanto é bem feita. O roteiro de Peter Straughan se destaca pela qualidade dos diálogos.

Grandes atuações valorizam Conclave, sobretudo a de Ralph Fiennes, ator britânico de 62 anos, que faz o cardeal Thomas Lawrence, que está à frente do conclave. Fiennes ficou muito popular fazendo o Lord Voldemort nos filmes da franquia Harry Potter.

As mulheres têm pouca voz no conclave, mas a irmã Agnes é personagem importante na trama. Agnes é Isabella Rossellini, filha de Ingrid Bergman e Roberto Rossellini. Isabella está com 72 anos, cinco a mais do que a mãe tinha quando morreu, em 1982.

Conservadores de um lado, progressistas do outro. As duas forças lutam pelo poder, e Conclave reserva algumas reviravoltas para o espectador. Nada, no entanto, é tão surpreendente quanto o desfecho. Bate pesado na Igreja, mas não vou cometer spoiler.  

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