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Jurado # 2 é um dos grandes filmes de 2024

CBN Paraíba

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Foto/Divulgação/Warner.

Ninguém entendeu direito ainda. A Warner não botou Jurado # 2 na tela grande dos cinemas. O novo filme de Clint Eastwood foi direto para as plataformas de streaming. 

No Brasil, Jurado # 2 foi lançado na sexta-feira 20 de dezembro na plataforma Max e também está disponível para aluguel ou compra em outras plataformas. 

Clint Eastwood está com 94 anos, este é seu quadragésimo trabalho como diretor, e, não importa se em cinemas ou no streaming, Jurado # 2 é um dos grandes filmes de 2024. 

Quem diria que o herói empoeirado e mal barbeado dos westerns italianos dirigidos por Sergio Leone se transformaria num dos maiores cineastas do Novo Mundo?

Estou dizendo de memória, mas foi mais ou menos isso que há muitos anos li no Dicionário de Cinema, Os Diretores, do historiador francês Jean Tulard. 

Clint Eastwood começou a atuar como ator aos 25 anos, mas só se projetou depois dos 30, quando foi fazer filmes na Itália, dirigido por Sergio Leone.

Era um americano nascido em São Francisco, na Califórnia, protagonizando westerns chamados de spaghetti. Os cultores do gênero não gostaram nem um pouco.

A trilogia em que fazia um herói sem nome lhe deu fama mundial: Por um Punhado de Dólares (1964), Por Uns Dólares a Mais (1965) e Três Homens em Conflito (1966).

Depois vieram os trabalhos com Don Siegel, mestre americano do filme B. O Estranho que Nós Amamos, de 1971, é certamente o melhor produto dessa parceria.

O Clint Eastwood diretor tardou muito a começar. Foi em 1971, já aos 41 anos, mas com uma estreia bastante promissora, o thriller Perversa Paixão.

O Estranho Sem Nome, de 1972, reedita o herói anônimo e parece mais com um spaghetti de Sergio Leone do que com os westerns americanos.

Clint Eastwood diretor seria, então, o encontro de Sergio Leone com Don Siegel? Afinal, reconhece os dois como mestres e a eles dedica o western Os Imperdoáveis.

Se a resposta é sim, a filmografia que construiu mostra, no entanto, que ele, muito maior do que os dois, acabou figurando entre os grandes diretores de cinema do mundo.

Nascido em 1930, Clint Eastwood é republicano e reacionário, mas não o seu cinema. Juntos, os filmes que dirigiu compõem um admirável painel da América.

São retratos do processo civilizatório, das engrenagens do poder, do espírito bélico, da corrupção, da violência, do racismo, dos perdedores, dos seus artistas – de um país que tanto separa os homens pela cor da pele quanto lega o jazz ao mundo. 

Amante da música e, particularmente, do jazz, Clint Eastwood fez de Bird, de 1988, cinebiografia do gênio Charlie Parker, um dos pontos altos da sua filmografia.

Os Imperdoáveis, de 1992, Oscar de Melhor Filme e Melhor Diretor, é uma verdadeira obra-prima. Recupera o gênero western e atualiza seus temas centrais.

As Pontes de Madison, de 1995, é uma história de amor narrada com extraordinária sensibilidade. Um Mundo Perfeito, de 1993, é vigoroso road movie.

Sobre Meninos e Lobos, de 2003, e Menina de Ouro, de 2004, são pequenas obras-primas. Menina de Ouro repetiu as estatuetas (filme e diretor) de Os Imperdoáveis.

A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima, realizados simultaneamente em 2006, oferecem visões antagônicas de uma mesma guerra. 

A vocação intervencionista dos Estados Unidos e os traumas que esta provoca na sociedade americana estão em Sniper Americano, de 2014.  

J. Edgar, de 2011, fala dos subterrâneos da política, de sexo e poder. Invictus, de 2009, dá aula de política ao retratar um líder da estatura de Nelson Mandela.

O Caso Richard Jewell, de 2019, tem a ameaça do terror, a cultura do medo, a força da mídia e o poder discricionário do Estado e suas instituições.

Finalmente, Jurado # 2. É um filme de juri, filme de tribunal, com uma trama em que predominam os interiores. Dizem que será o último trabalho de Clint Eastwood.

Em Alfred Hitchcock (A Tortura do Silêncio, O Homem Errado, Intriga Internacional), temos inocentes acusados por crimes que não cometeram.     

Jurado # 2 é o inverso da fórmula de Hitchcock. O drama de Justin, o protagonista, começa quando se descobre culpado por um crime que jamais imaginava ter cometido.

A segunda parte da narrativa de Jurado # 2 tem algo de 12 Homens e Uma Sentença. 12 Angry Men é um clássico de 1957 dirigido por Sidney Lumet.    

Em 12 Homens e Uma Sentença, trancados numa sala, 11 jurados não têm dúvida sobre a culpa do réu e defendem a sua condenação. Mas alguém tem dúvida.

O jurado interpretado por Henry Fonda não crê na culpa e tenta mudar o voto dos demais. Como faz Justin, em Jurado # 2, o único a saber que o réu é inocente. 

A diferença fundamental é que o jurado de Henry Fonda não tem nada a ver com o crime de que o réu é acusado, enquanto Justin é o próprio autor do crime.

Jurado # 2 acrescenta ao painel da América montado por Clint Eastwood uma fotografia da Justiça, suas verdades, manipulações e erros.

E o faz com a sobriedade e a honestidade que são marcas do seu cinema. Sem firulas, com a habitual contenção do modelo narrativo que há muito adotou.

Como diretor, Clint Eastwood tem uma assinatura inconfundível. Aprendeu a fazer um cinema sem excessos. Como quem prefere o mínimo e, com ele, faz o máximo.

Jurado # 2 é um grande momento de Clint Eastwood. À primeira vista, parece estar à altura dos seus melhores filmes, com roteiro preciso e elenco soberbo. 

O lema “in God we trust” surge como um achado numa cena no tribunal. Assim como, no início, a imagem da mulher com a venda nos olhos lembra a estátua da Justiça.

É a deusa Themis que está sobre a promotora (Toni Collette), que, não por acaso, se chama Faith – ela sentada sozinha num banco, na frente do prédio do tribunal.

E é a figura da promotora Faith que se impõe sobre o protagonista Justin (Nicholas Hoult) neste filme magistral que surpreende por oferecer ao espectador um final aberto.  

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