Figurinos do texto O Auto da Compadecida estão expostos. (Foto: Divulgação)
Uma união da cultura popular com a erudita, numa interligação entre as mais variadas expressões artísticas. O Movimento Armorial é muito falado quando se lembra de Ariano Suassuna, cuja morte completa 10 anos nesta terça-feira (23), porém pouco conhecido a fundo por quem não é da música.
O Movimento Armorial foi iniciado oficialmente em 18 de outubro de 1970, com um concerto realizado na Igreja São Pedro dos Clérigos, em Recife, pela Orquestra Armorial de Câmara, ao mesmo tempo em que acontecia uma exposição de artes plásticas.
Segundo o próprio Ariano Suassuna, em entrevistas concedidas na época, o Movimento Armorial “surgiu com a finalidade de lutar contra o processo de descaracterização da cultura brasileira [e] pretendia também criar uma arte erudita, partindo das raízes populares e com influências ibéricas, investigando e recuperando melodias barrocas preservadas pelo romanceiro popular, os sons de viola, dos aboios, e das rabecas dos cantadores”.
O paraibano Ariano Suassuna usou a literatura para fazer justiça à memória do pai. Foto: arquivo pessoal.
Foto: arquivo pessoal
De acordo com a pesquisadora Ariane Nóbrega, as primeiras ideias do Movimento já estavam sendo discutidas desde os anos 40, através de artigos e reflexões sobre a música e estudos realizados por um grupo de intelectuais em Pernambuco, onde Ariano Suassuna era fundador e organizador desse movimento.
“Essas reuniões tinham a finalidade de propor uma arte brasileira, tendo, como base, as raízes populares, procurando resgatar uma cultura nacional, dando continuidade aos ideais defendidos pelo movimento nacionalista”, diz Ariana em artigo resultado da sua dissertação em que estudou o Movimento Armorial.
Segundo a pesquisa de Ariane Nóbrega, no Movimento Armorial foram realizados estudos dos sons populares, associando-os aos sons de instrumentos eruditos, permitindo na música armorial apenas instrumentos que tivessem correspondentes similares na arte popular, mantendo uma linguagem nordestina.
O violino e a viola passam a representar a rabeca de som mais grave e mais agudo; os violoncelos e o contrabaixo, a dar “profundidade” ao som. Para representar o pífano da cultura popular, utilizaram a flauta.
Ariano era filho do ex-governador da Paraíba, João Suassuna. Foto: divulgação.
Ariano Suassuna (Foto: Francisco França/Arquivo)
“A partir dos primeiros trabalhos de composição da Música Armorial, formou-se o primeiro Quinteto, fundado por Ariano Suassuna em 1969, cuja estrutura era baseada no terno de Mestre Ovídio, composto de dois pífanos e duas rabecas. Esse Quinteto era composto por duas flautas, por causa dos dois pífanos do terno, um violino e uma viola de arco, por causa das duas rabecas e percussão por lembrar o ‘zabumba’ da música popular. Em seguida a esse grupo, formou-se a Orquestra Armorial e o Quinteto Armorial”, explica.
Representantes do Movimento Armorial
O Movimento Armorial expressou-se inicialmente através da música de Antonio José Madureira, Guerra-Peixe, Cussy de Almeida, Jarbas Maciel e Capiba; na pintura de Francisco Brenand; do teatro de Ariano Suassuna, do romance de Maximiano Campos; da poesia de Janice Japiassu, Ângelo Monteiro e Marcus Accioly; da gravura de Gilvan Samico; do desenho de Fernando José Torres Barbosa; do cinema de George Jonas; da escultura de Fernando Lopes e da arquitetura de Arthur Lima Cavalcanti, tendo como mentor Ariano Suassuna.