No mundo dos suplementos alimentares, o ômega-3 proveniente do óleo de peixe tem recebido muita atenção, frequentemente promovido como uma solução para vários problemas de saúde, especialmente os cardiovasculares. Comercializados amplamente e disponíveis sem receita, esses suplementos prometem melhorar a saúde do coração e oferecer outros benefícios. No entanto, pesquisas recentes levantam questões importantes sobre a validade e a segurança dessas afirmações.
André Telis
Mais derrames e arritmias em quem usou altas doses
Um estudo abrangente publicado na BMJ Medicine lançou nova luz sobre o impacto dos suplementos de óleo de peixe na saúde cardiovascular. O estudo monitorou mais de 415.000 participantes com idades entre 40 e 69 anos por quase 12 anos. As descobertas são intrigantes e um tanto preocupantes: o uso regular de suplementos de óleo de peixe foi associado a um aumento do risco de fibrilação atrial (FA) e derrame entre aqueles sem condições cardiovasculares preexistentes. Especificamente, o estudo revelou um aumento de 13% no risco de FA e um aumento de 5% no risco de derrame na população geral que usa esses suplementos.
Falta respaldo científico
Essa revelação nos convida a traçar paralelos com o uso de outros suplementos populares, como a vitamina D. Assim como o ômega-3, os suplementos de vitamina D são frequentemente recomendados e usados extensivamente sem sempre ter um respaldo científico robusto para seus benefícios alegados. Por exemplo, enquanto a vitamina D é essencial para a saúde óssea, seu papel na prevenção de outras condições, como câncer ou doenças cardíacas, permanece controverso e não é definitivamente apoiado por evidências científicas.
Quem precisa de suplementos
A necessidade de suplementação, particularmente em populações bem nutridas, está sendo cada vez mais questionada. A atração por soluções simples em forma de pílula pode ofuscar as complexidades da ciência nutricional e o entendimento destacado como necessário para abordar efetivamente as necessidades de saúde individuais. O estudo do BMJ traz a necessidade crítica de uma abordagem cautelosa à suplementação, enfatizando a importância da validação científica sobre evidências anedóticas ou afirmações de marketing.
Para aqueles com condições cardiovasculares preexistentes, o estudo mostrou alguns efeitos benéficos do óleo de peixe, como a redução dos riscos de ataque cardíaco e morte por insuficiência cardíaca. Essa dicotomia ressalta a complexidade dos suplementos alimentares e a necessidade de aconselhamento médico personalizado.
À luz dessas descobertas é essencial que os consumidores participem de discussões informadas com seus provedores de saúde antes de iniciar qualquer regime de suplementação. Embora os ômega-3 e outros suplementos possam desempenhar um papel em contextos específicos de saúde, sua aplicação universal não é uma solução única para todos. As evidências emergentes pedem uma abordagem mais personalizada e baseada em evidências para a suplementação dietética, priorizando a segurança e a eficácia fundamentadas em pesquisas científicas robustas.
O estudo recente é um lembrete poderoso de que, embora os suplementos possam oferecer benefícios, eles não estão isentos de riscos. À medida que continuamos a buscar uma saúde ótima, a sabedoria de uma nutrição equilibrada, atividade física regular e orientação médica permanece primordial.
André Telis de Vilela, é médico, cirurgião cardiovascular, doutor em medicina pela UNIFESP e professor da UFPB. Colunista de saúde do Jornal da Paraíba, Tv Cabo Branco e rádio CBN.