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Opinião: Deus não tem culpa

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Lula entrega trecho de obra no Sertão da Paraíba – Fot.

Gustavo Demétrio

A declaração do presidente Lula, durante passagem pela Paraíba, de que Deus deixou o Sertão sem água na região Nordeste porque sabia que ele, Lula, seria presidente – além de ofuscar a agenda positiva que o Governo Federal havia planejado para o evento, distanciou ainda mais o presidente de eleitores que ele tenta reconquistar para as eleições de 2026.

Mais do que um simples deslize ou “bola fora”, como geralmente são tratados os atuais equívocos presidenciais, a declaração revela duas coisas. Primeiro, a exposição de um pensamento que é peculiar há muito tempo ao petista: a visão extremamente materialista de mundo. E depois, atribui ao divino algo que a má política produz: as mazelas sociais.

Ao afirmar que Deus permitiu a seca na região Nordeste — mesmo que se queira atribuir a um possível tom metafórico ou alegórico — o presidente revela uma falta de zelo que somente um cristão sem certeza de sua fé poderia expressar, porque beira a blasfêmia. A declaração, ao mesmo tempo, esconde a incompetência do poder público e exime os políticos da culpa.

Muito embora seja legítima a prática de exaltação aos próprios feitos políticos, os fatos não podem ser apagados. A despeito das consequências naturais que levam ao clima árido do sertão, o sofrimento por que passa a população é sintoma de coisas como a indiferença de muitos governos, e a corrupção e a ineficiência, que marcaram as obras da transposição do São Francisco durante os governos Lula e Dilma.

A ideia de “transpor” o rio para estados da região Nordeste existe desde o Império, tendo contado com muitos estudos e inúmeros esforços ao longo dos anos. E, embora o presidente Lula tenha escrito na história o seu nome ao iniciar a obra complexa, também não pode apagar da linha do tempo o ônus da inoperância. Afinal, foi somente no governo Temer que ocorreu a inauguração do primeiro eixo da obra.

Por fim, a declaração do presidente não soou bem perante o eleitorado. Mas, na prática, ele repetiu outros personagens históricos, políticos e alguns bíblicos que, sem querer enfrentar suas culpas, resolveram apontar para os céus. A exemplo de Adão, o pai da humanidade, que culpou indiretamente a Deus por ter comido do fruto proibido que Eva lhe oferecera.

Seja no Gênesis ou no Brasil de 2025, Deus segue “inocente” pelas mazelas que a humanidade produz. Os homens, não.

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