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OPINIÃO: o grito foi feminino

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Mulheres chegam na Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Infância e Juventude para fazer denúncias de estupro de vulnerável contra o médico pediatra Fernando Cunha Lima, em João Pessoa.

Volney Andrade

Estava aguardando a chegada de mulheres à Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Infância e a Juventude. A denúncia era contra o médico pediatra Fernando Cunha Lima, suspeito de abusar de crianças durante consulta, e segundo denunciantes, na frente das mães.

A primeira a chegar tinha sido também a primeira a denunciá-lo na delegacia. O grito de “pare ” veio primeiro dessa mulher, mãe de uma menina de nove anos. Ela saiu do consultório direto para a delegacia. Ela denunciou um crime que, para nos deixar ainda mais chocadas, já acontecia há décadas. E que logo fez reverberar no passado. Nas sobrinhas desse mesmo médico que, hoje adultas, ainda choram pelos estupros e traumas que sofreram meninas. Elas também foram denunciar.

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Ao aguardar por essa mãe, justo aquela que fez a primeira denúncia oficial à polícia, e que foi ao local também para encorajar outras mães, percebi o quanto é importante permanecer na luta para que a justiça seja feita. E ali me dei conta do quanto já fomos vítimas de abuso e tivemos que nos calar, neutralizar tudo aquilo por culpa, vergonha, até mesmo receio daquilo se tornar algo contra a gente.

Só vi mulheres na delegacia. Só mulheres. Mães de vítimas e vítimas adultas. Uma ainda aos prantos, abalada por reviver tudo aquilo.

Quando chegava mais uma, e mais uma, elas se amparavam. Abraçavam-se e diziam: “parabéns pela coragem”.

Eram só mulheres, repito. Elas. Na luta, na resistência. Desamparadas por todos os demais, mas ao mesmo tempo se amparando mutuamente. Sentadas lado a lado. Defendendo-se e defendendo igualmente quem também estava lá, ao lado delas, dividindo as mesmas dores.

Logo acabaram as cadeiras de espera. Porque eram muitas. Que representavam tantas outras mais. A dor de várias gerações finalmente estava se transformando em grito coletivo. E, tão importante quanto, em inquérito policial.

No fim, somos só nós mesmas. Mulheres acompanhadas de mulheres para proteger nossos filhos, a nós mesmas.

E apesar dessa situação de caos e de muita angústia, perguntei para uma das sobrinhas, que decidiu ir à TV denunciar, o que ela sentia naquele momento que estava na polícia para oficializar a denúncia. Ela resumiu, certeira: “alívio”.

Eu vi esse alívio também no semblante da mãe que fez a primeira denúncia. “Estou aqui para encorajar. E vou até o fim”.

Mas, afinal, quando tudo isso terá fim? O que nos resta é gritar. Até que finalmente sejamos ouvidas.

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