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As Olimpíadas entraram na minha vida em 1968 através de um álbum de figurinhas das revistas de Walt Disney. Você comprava as revistas e ganhava as figurinhas. Todas elas. Não havia refugos.
O álbum terminava com os jogos de Tóquio em 1964, e seu lançamento antecedia os jogos da Cidade do México, realizados em outubro de 1968.
Em 1972, Munique teve o atentado terrorista contra a delegação de Israel. Em 2005, Steven Spielberg, que é judeu, contou essa história em seu filme Munique.
Só em 1976, parei diante da televisão para ver algo das Olimpíadas. Em Montreal, a ginasta romena Nadia Comaneci comoveu o mundo. Tinha 15 anos. Hoje tem 62.
Em 1980, os Estados Unidos boicotaram os jogos de Moscou. O ursinho Misha fez muita gente chorar. Na redação de A União, lembro que até um colega de extrema direita que prestava serviços à ditadura militar derramou lágrimas diante de Misha.
Em 1984, a União Soviética boicotou os jogos de Los Angeles. As duas potências só se encontraram nos jogos de Seul, em 1988. A União Soviética levou 132 medalhas. Os Estados Unidos, 92.
E seguimos com Barcelona (1992), Atlanta (1996), Sydney (2000), Atenas (2004), Pequim (2008), Londres (2012), Rio de Janeiro (2016) e Tóquio (2021). Os jogos de Tóquio foram adiados por um ano por causa da pandemia.
Grandes eventos como as Olimpíadas ou a Copa do Mundo são marcadores de tempo. Eles vão se sucedendo, e a vida da gente vai passando.
Em 1968, eu tinha somente nove anos quando fiz o álbum de figurinhas das revistas de Walt Disney. Agora em 2024, quando a festa é em Paris, estou com 65.
Há poucos dias, numa eleição parlamentar, a França correu o risco de cair nas mãos da extrema direita. Nesta sexta-feira, 26 de julho de 2024, a França da república, da democracia, da igualdade, da fraternidade e da liberdade mostrou ao mundo que os caminhos de que necessitamos são outros.
A abertura dos jogos de Paris foi um espetáculo deslumbrante que, unindo o clássico ao contemporâneo, falou de diversidade e inclusão enquanto os artistas cantavam e dançavam guiados pelo que de melhor a França legou ao mundo, da cultura à moda.
Imagine, de John Lennon, pertence ao mundo e nos comoveu quando apresentada, voz e piano, sobre as águas do Sena e sob a chuva forte que caiu em Paris.
Mas, na música, o principal era o que a França produziu. Da ópera de Bizet ao pop contemporâneo de Aya Nakamura.
Não faltou a Marselhesa, que é o hino nacional mais bonito do mundo, nem o Hino ao Amor, de Piaf, que mostrou Céline Dion cantando no alto da Torre Eiffel.
Céline Dion, essa grande cantora canadense de voz cristalina, que, aos 56 anos, luta contra um grave mal degenerativo.
A abertura dos jogos de Paris foi uma celebração à diversidade e também à esperança. A esperança num mundo que não seja esse que a extrema direita está oferecendo.
No mundo conflagrado em que vivemos, com a Ucrânia invadida por Putin, Gaza dizimada por Netanyahu e os Estados Unidos ameaçados pela volta de Trump, ter esperança há de ser uma tremenda ingenuidade. Mas, como na canção de Lennon, sonhar um pouco não faz mal.
Os jogos de Paris começaram com uma bela e comovente lição de crença num mundo melhor.