Foto do paraibano Francisco Barreto tirada pelo fotógrafo Sebastião Salgado | Foto: Sebastião Salgado.
Sebastião Salgado
O professor e escritor paraibano Francisco Barreto, de 78 anos, conta que foi vizinho de Sebastião Salgado, ícone da fotografia mundial que morreu nesta sexta-feira (23), durante o período em que esteve exilado na França em meio à ditadura militar no Brasil.
Barreto e Sebastião Salgado se conheceram em 1969, na cidade de Paris, onde moraram em um apartamento um ao lado do outro até 1971, quando o caminho dos dois se separou depois que o fotógrafo viajou para a Inglaterra.
Francisco Barreto lembra que os dois faziam refeições juntos no restaurante universitário de Paris, que era a principal fonte de alimentação para a parte mais pobre que vivia na cidade na época.
‘Ele fazia política através das lentes‘
Ao lembrar dos momentos vividos ao lado de Sebastião Salgado, a quem ele chamava carinhosamente de ‘Tião de Lelinha’, em menção à Lélia Wanick Salgado, esposa do fotógrafo, Barreto se emociona.
“Lelinha era uma pessoa linda, não só como mulher, mas era um doce de pessoa. Eles eram um casal muito lindo”, diz ele.
O professor conta que Sebastião foi o responsável por ensinar a ele muita coisa sobre fotografia, e que os dois passavam horas perambulando pela cidade com câmeras fotográficas na mão.
“Ele me ajudou muito no recorte de fotos. Me ensinou a revelar, imprimir fotos no laboratório. Ele era uma figura notável, uma pessoa muito simples. Tinha uma certa propensão a calvície já nessa época. Só de falar já estou ficando emocionado”, brinca, com a voz embargada.
Reprodução/Arquivo Pessoal
Barreto fala que durante as andanças da dupla na busca de novas perspectivas imagéticas, ele gostava de fotografar fachadas de prédios e construções, enquanto Sebastião focava nas paisagens humanas.
“Ele tinha predileção por fotos de pessoas, crianças, idosos. Ele fazia política através das lentes”, conta, se referindo ao modo como Sebastião Salgado registrava a população marginalizada e invisibilizada da sociedade por meio de seus registros fotográficos.
Capa de livro com foto tirada por Sebastião Salgado
Barreto conta que, apesar de não ter em mãos nenhum registro dele e de Sebastião Salgado juntos, guarda de lembrança fotos que foram tiradas pelo amigo. Uma dessas fotos até se tornou capa de um dos livros de Francisco Barreto, uma memória dos anos em que eles viveram lado a lado em Paris.
Reprodução/Arquivo Pessoal
A foto é creditada no livro de Francisco, que conta que depois que perdeu o contato com Sebastião após o amigo partir em viagem para Inglaterra, os dois até chegaram a trocar e-mails, combinando de se visitarem futuramente, mas que o reencontro nunca chegou a acontecer.
Reprodução/Arquivo Pessoal
Sebastião Salgado morre aos 81 anos
TiagoQueiroz/Estadão
Nesta sexta-feira (23), morreu Sebastião Salgado, aos 81 anos. Nascido em Minas Gerais, o fotógrafo foi um dos grandes gênios da fotografia mundial. Suas imagens em preto e branco registraram a natureza e a humanidade.
Formado em Economia, Sebastião Salgado começou a fotografar aos 27 anos, durante um doutorado na França. Seus primeiros registros foram feitos em viagens pela África, enquanto trabalhava na Organização Internacional do Café. Ao longo da carreira, viajou e fotografou mais de 130 países.
Em 1998, fundou o Instituto Terra ao lado da esposa, Lélia. O projeto transformou uma área degradada no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, em um santuário de biodiversidade, com mais de 3,5 milhões de árvores replantadas.
Sebastião Salgado morreu em Paris, onde vivia com a esposa. Deixa dois filhos e dois netos.