O futebol brasileiro vive um momento importante no combate ao racismo. Desde 2024, está em vigor o Protocolo Antirracista da Fifa, adotado oficialmente pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que prevê interrupção da partida, suspensão e até encerramento do jogo em casos de episódios racistas. O procedimento, padronizado em todas as 211 federações filiadas à Fifa, também institui um gesto simbólico: braços cruzados em “X” à frente do peito, feito por jogadores e árbitros para comunicar episódios de racismo.
Jogadores do Operário-PR denunciam injúria racial do meia do América-MG.
(Foto: Reprodução/Disney+)
O caso mais recente da aplicação do protocolo ocorreu no último domingo (4), durante a partida entre Operário-PR e América-MG, pela 6ª rodada da Série B. Aos 30 minutos do primeiro tempo, o atacante Allano, do clube paranaense, acusou o meia Miguelito, do time mineiro, de injúria racial. O árbitro Alisson Sidnei Furtado foi informado e imediatamente fez o gesto de “X”, interrompendo o jogo e acionando o protocolo oficialmente.
Etapas do protocolo antirracista
A aplicação do Protocolo Antirracista segue três etapas obrigatórias, com o objetivo de coibir e punir manifestações racistas dentro e fora de campo:
1. Interrupção imediata da partida
Assim que um jogador, árbitro ou qualquer oficial da partida relata ou presencia uma conduta racista, o árbitro deve paralisar o jogo imediatamente. Ao mesmo tempo, ele faz o gesto simbólico — braços cruzados na frente do peito — para informar que se trata de um episódio de racismo. Em seguida, o sistema de som do estádio é utilizado para comunicar ao público o motivo da paralisação e para solicitar o fim imediato dos comportamentos discriminatórios.
2. Suspensão temporária da partida
Caso o comportamento racista continue, mesmo após a interrupção inicial, o árbitro pode optar por suspender temporariamente a partida. Os jogadores e comissões técnicas são orientados a se retirar de campo. Um novo anúncio é feito ao público, alertando que, se os atos persistirem, o jogo será encerrado.
3. Encerramento definitivo da partida
Se, mesmo com a suspensão, os atos racistas não cessarem, o árbitro pode determinar o fim da partida. De acordo com as diretrizes da Fifa e da CBF, o clube ou torcida responsável pelo comportamento discriminatório pode ser punido com a perda dos pontos e outras sanções desportivas.
O gesto oficial: braços cruzados em “X”
O gesto foi definido pela Fifa como sinal universal para identificar e reagir a um ato racista. Ele se tornou parte oficial do protocolo no meio de 2024 e foi implementado pela primeira vez em torneios internacionais na Copa do Mundo Feminina Sub-20, na Colômbia.
Procedimento de gestos da arbitragem criado pela Fifa para casos de racismo no futebol.
(Foto: Reprodução)
Desde novembro do mesmo ano, todos os campeonatos organizados pela CBF passaram a adotar o gesto como ferramenta de denúncia. A entidade também se comprometeu a anunciar antes dos jogos, via sistema de som e telões, o que o gesto representa e o que acontece caso episódios de racismo sejam registrados.
O caso Operário-PR x América-MG como exemplo prático
O episódio ocorrido no Estádio Germano Krüger serviu como exemplo claro da aplicação do novo protocolo. Após a denúncia de Allano, o árbitro seguiu o procedimento e paralisou a partida por cerca de 15 minutos. Durante esse período, houve discussões em campo e até tumulto fora dele, com um torcedor sendo retirado após atirar um objeto em direção aos jogadores do América-MG.
O jogo foi retomado sem que nenhuma das etapas seguintes do protocolo precisasse ser acionada. Ainda assim, a denúncia de injúria racial será relatada na súmula oficial da partida, o que poderá gerar investigação e punições no âmbito do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).
O papel do Brasil e da Fifa na mudança
A padronização do Protocolo Antirracista foi aprovada por unanimidade pela Fifa em 2024, e o Brasil foi o primeiro país a incorporar integralmente as diretrizes em todas as competições nacionais. A decisão veio após episódios recorrentes de racismo nos estádios e ganhou força com o apoio de jogadores como Vinícius Júnior, que se tornou símbolo da luta contra a discriminação no futebol mundial.
Vini Jr. comemora gol pelo Real Madrid.
(Foto: Getty Images)
Além do protocolo, a Fifa estabeleceu que as federações nacionais devem criar artigos específicos em seus códigos disciplinares para punir racismo com sanções esportivas. Um Painel Antirracista, com jogadores e ex-jogadores, também foi criado para acompanhar e sugerir ações de combate ao preconceito.
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